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Foto do escritorEverton Pires

Como Me Tornei Guia de Pesca Profissional

Atualizado: 19 de jul.

Como me tornei guia de pesca profissional

Aqui nesse espaço venho relatar a vocês uma pergunta clássica que eu recebo abordo com grande frequência durante os momentos de pesca com os mais diversos clientes: Como foi que eu me tornei um Guia de Pesca?


Desde muito pequeno eu sempre admirava e achava o máximo uma pessoa poder trabalhar como guia de pesca ou condutor de turismo de pesca. Naquela época, essa categoria de profissionais eram mais comumente chamados de piloteiro ou pirangueiros.


Por falta de conhecimento, considerava que era impossível eu me tornar um daqueles caras que eu via na televisão ou nas revistas de pesca. Isso porque na minha ingenuidade, para uma pessoa estar apta a conduzir outras pessoas a pescar em uma determinada região, ela deveria necessariamente ter nascido no local ou no mínimo ter passado a maior parte da sua vida em determinada região, garantindo que fosse um profundo conhecedor de toda a área.


Eu, que não era natural de nenhuma região ribeirinha e de relevante atratividade pesqueira, nascido em uma região metropolitana do Estado de São Paulo, me considerava incapaz e completamente distante de exercer tal função.


Por vezes, imaginava que gostaria de ter nascido em uma condição de ribeirinho, dentro da simplicidade de algum lugar no meio da Amazônia, sendo capaz de desempenhar um bom papel na condução de pessoas que se interessassem em pescar e conhecer a Amazônia brasileira. 


Como eu não enxergava uma possibilidade de me tornar um daqueles heróis das revistas e programas de pesca, esse desejo “inalcançável” permaneceu adormecido durante muitos e muitos anos na memória.


Hoje eu considero que uma coisa foi levando a outra para que eu pudesse chegar até a posição atual de Guia de Pesca profissional. Além de alguns fatores e diversos passos, com certeza a minha trajetória como pescador desde os 4 anos de idade contabilizou muito na construção de toda minha bagagem técnica.


O pontopé inicial para me tornar um guia de pesca


Penso que o pontapé inicial para essa profissionalização foi a minha decisão de mudar de cidade e Estado e ir até Recife para “fazer o que eu gosto”, cursar Engenharia de Pesca. 


É claro que ele dá uma boa base técnico-científica, mas eu não considero que o Curso de Engenharia de Pesca foi o grande responsável na construção de minha carreira profissional como Guia de Pesca, isso porque o foco do curso não é esse e muito pouco se houve falar nessa atividade durante o curso. Porém, é inegável dizer que o movimento de me “desprender” de familiares e ir realizar esse curso foi o precursor para muitas portas se abrirem mais adiante.


É por isso que eu digo que uma coisa foi levando a outra. Se eu não tivesse decidido realizar esse curso, eu não teria tido a oportunidade de fazer um intercâmbio na Irlanda e estaria certamente menos preparado para enfrentar novos desafios.


Trabalhando no cultivo de salmão do Atlântico na Irlanda


Trabalhando no cultivo de salmão do Atlântico na Irlanda

Em 2014 eu fui aprovado pelo Programa Ciências Sem Fronteiras, que permitia uma graduação Sanduíche de 1 ano em um país estrangeiro, podendo se estender por mais 3 meses para a realização de um estágio supervisionado no campo de estudo.


Cursei dois semestres do curso de Agricultura, em Waterford, condado da Irlanda. Meu objetivo principal com este intercâmbio era de aprimorar o meu inglês, adquirindo fluência no idioma. Após 1 ano de curso, participei de uma seleção de bolsistas para trabalhar como estagiário no Marine Institute (Instituto Marinho da Irlanda). Fui aprovado na seleção e consegui estender meu visto no país por mais 3 meses.


Trabalhei na Irlanda com cultivo de Salmão do Atlântico. Além das atividades rotineiras no cultivo de salmão, uma de minhas atribuições como estagiário consistia em preparar os barcos e equipamentos para que os guias pudessem levar seus clientes para pescar, pois a fazenda de cultivo de salmão também funcionava como uma operação de pesca esportiva. Certamente essa atividade serviu como uma etapa preparatória para o que viria a se passar mais adiante. 


Minha primeira temporada como guia de pesca


No início de 2016, recém-chegado da experiência de intercâmbio, visualizei um anúncio no Facebook em que se buscavam uma pessoa que tivesse conhecimento na modalidade de FlyFishing e que soubesse falar Inglês fluentemente para trabalhar como Guia de Pesca com Mosca. Eu que já tinha uma boa experiência, sendo adepto da modalidade desde os 13 anos de idade e com o inglês ainda “na ponta da língua”, corri para me candidatar a essa vaga.


“Nos vemos na próxima temporada”, me disseram no final da entrevista. Foi assim que em agosto de 2016 as portas se abriram definitivamente para a minha trajetória profissional como Guia de Pesca Esportiva especializado em Pesca com Mosca. A minha primeira experiência foi guiando no Rio Marié, o Rio de Gigantes, através da empresa Untamed Angling.

A primeira temporada como guia de pesca pela operação Untamed Angling

Foram 5 meses de temporada no Rio Marié, guiando e consolidando minha base profissional em áreas remotas da Amazônia, levando estrangeiros para pescar em uma área de reserva inserida em terras indígenas da Região do Alto Rio Negro.


Essa minha primeira temporada como Guia profissional de Pesca esportiva serviu ainda, dentre uma infinidade de aprendizados, para desconstruir algumas crenças que eu tinha em tempos de outrora. Aos poucos, eu fui percebendo que para se tornar um Guia de Pesca profissional já não era necessário ser um ribeirinho ou ter nascido na região de operação.


Aprendi que nesse campo de atuação, o conhecimento do local e a experiência técnica na modalidade tem sim muita importância, mas não é o fundamental. Entendi então que o tratamento com os clientes é primordial para desempenhar um bom serviço na categoria.


Isso significa, por exemplo, de que nada adiantaria conhecer “com a palma da mão” todos os canais e bancos de areia para se navegar em um rio se eu não soubesse tratar bem meus clientes, capaz de conversar e entender suas reais necessidades na rotina de pesca. Isso fica muito mais evidente nos dias em que a pesca está difícil e com peixes pouco ativos, sendo preciso uma atenção redobrada para manter os clientes motivados diante de condições adversas. 


Quinze dias antes de começar a guiar efetivamente no Rio Marié, eu já estava lá para participar da prospecção (scouting). Atividade de campo que consistia em pescar diariamente o máximo que pudesse afim de conhecer todos os lagos e pontos de pesca do local, bem como sua navegabilidade.


Essa prática foi feita com pescadores indígenas locais que também atuavam como guia de pesca na região. Portanto, os guias novatos recebiam treinamento direto daqueles que eram profundos conhecedores do local.


Após quinze dias de pescarias intensas já era possível se ter um bom aprendizado do rio e de sua navegabilidade, além de entender bem o comportamento dos peixes e saber as iscas e técnicas mais efetivas em determinado momento, funcionando assim como uma prévia para a temporada, podendo recomendar o que os clientes deveriam ou não utilizar, baseando-se de modo empírico.


Em suma, a navegação e conhecimento do local se aprendem, as técnicas empreendidas na pesca também. Já o “feeling” e o trato com os clientes se adquire com o tempo, na lida diária com o público a bordo. São o conjunto desses 3 fatores principais que moldam um bom guia de pesca.


Talvez o “feeling” seja então um atributo de nascença mais importante para um guia do que necessariamente nascer em determinada região de atuação da profissional. Observo que existem pessoas no ramo notavelmente conhecedoras do local e das técnicas, porém muitas vezes carecem de um bom feeling e um bom trato para entender as reais necessidades de seus clientes e satisfazê-los de maneira mais profissional possível. 


Contudo, este é um assunto que podemos nos aprofundarmos em outra postagem mais oportuna, destacando aqui pois, um pouco desse processo de mudança de crença de acordo com a minha evolução no ramo da pesca esportiva e a possibilidade de se tornar um guia de pesca mesmo sem ter nascido no local de execução do trabalho.


Atuando como guia de pesca em Recife


Desde 2011 quando cheguei em Recife, percebi que a pesca esportiva naquela localidade estava demasiadamente atrasada. Observava em todas as minhas pescarias e prospecções tamanho potencial para tal e, contudo, no momento ainda não havia ninguém explorando o setor na região, nenhum guia de pesca exercendo tal função.


O período de 2011 a 2016 foi então uma fase sólida e fundamental para compreender o comportamento dos peixes na região, principalmente com a influência das marés, aprender a navegabilidade nos rios, explorar novos pontos e destinos e aprimorar minhas técnicas na pescaria de Tarpon.


Pescava por diversos dias consecutivos, muitas vezes após as aulas da faculdade. Lá estava eu abordo de um caiaque, investindo grande parte do meu tempo livre no aprendizado da pesca de Tarpons, isso sem nem saber que tudo aquilo serviria de base para meus serviços de guia de pesca na região. 

Pescando tarpons de caiaqi no Rio Capibaribe no Recife

Ainda na condição de estudante universitário, com poucos recursos, não me passava pela cabeça a possibilidade de ser o pioneiro a criar uma operação de Pesca de tarpons em Pernambuco.


Após retornar do Rio Marié em 2016, com algumas crenças desconstruídas e já com algum dinheiro no bolso e muita disposição, não pensei duas vezes em comprar uma embarcação e começar a promover a pesca esportiva de Tarpons na cidade de Recife-PE.


Assim, em dezembro de 2016 consegui fundar a Recife Tarpon, com o principal intuito de promover e proporcionar aos brasileiros uma pescaria urbana de tarpons prática, acessível e eficiente, já que antes era preciso que os brasileiros desembolsassem uma boa quantidade de dólares para se pescar tarpons em outros países.

Um dos primeiros clientes do Recife Tarpon pesca guiada

Primeiro reconhecimento pelo trabalho exercido


No final de minha primeira temporada do Rio Marié, o dono da empresa me chamou, parabenizando pelo meu desempenho em minha primeira experiência como guia de pesca. Como forma de agradecimento e conforme necessidade de um novo guia, me convidou para trabalhar em Kendjam, na condição de que eu também continuasse no Rio Marié no próximo ano. 


Minha expressão de contentamento foi nítida, já que eu não esperava que tão rapidamente surgiria um convite para guiar em um local onde houvesse necessidade de guias bem mais experientes e capacitados, dada a complexidade do próprio local e sistema de pesca praticado.


E é claro que sem hesitar eu aceitei a proposta. Lá estava eu, em 2017, guiando pela primeira vez no Kendjam, Rio Iriri, localizado no Sul do Pará, também área de reserva indígena.

Guianda pela primeira vez no Kendjam, Sul do Pará

Foram dois meses guiando no Kendjam e ao final da temporada fui direto para o Rio Marié, totalizando mais de 6 meses guiando todos os dias em território remoto da Amazônia, sem nenhum contato com cidades, apenas com uma internet precária para se comunicar com amigos e parentes.

Pesca guiada de trairão no Kendjam

No final da temporada do Marié alguns guias argentinos precisaram retornar aos seus lares e foi preciso que eu ficasse como Headguide, ou guia-chefe, como substituição a outro guia por mais 3 semanas até terminar a temporada.


A chamada para ser Headguide (Guia-Chefe)


Novamente, o desempenho de meu trabalho foi reconhecido e fui chamado para retornar ao Rio Marié em 2018 para ser Headguide (Guia-Chefe) durante toda a temporada.


O Headguide de uma operação de pesca esportiva, é o guia líder, que, além de exercer a função de guiar os clientes, possui também diversas outras responsabilidades como traçar toda a rota de pesca semanal, recepcionar os clientes, coordenar a equipe de guias profissionais e ribeirinhos, alinhar a navegação e posicionamento do barco hotel com o capitão da embarcação, etc...

 

Neste ano de 2018 não foi possível realizar a temporada em Kendjam pois precisei concluir o semestre letivo na faculdade, cujas datas entravam em conflito com as datas operacionais do Kendjam.


A chamada para a primeira temporada exploratória


No ano de 2019, mais um reconhecimento e mais uma bagagem fora acrescentada junto a minha atuação profissional como Guia de Pesca.


Fui convidado para realizar a primeira temporada exploratória da operação Xingu, localizada no Rio Xingu, também inserida em terras indígenas e viabilizada pela mesma empresa, Untamed Angling.

Pesca guiada de cachorras no Rio Xingu

Essa temporada exploratória consistia em uma curta temporada de 4 semanas, recebendo clientes formadores de opiniões no mundo da pesca, para juntos descobrirmos o potencial, as técnicas e os pontos de pesca do Rio Xingu, focando mais especificamente na pesca com mosca de cachorras.


Foi um trabalho árduo, que exigiu bastante esforço, visto que muito pouco se conhecia do local, das técnicas que poderiam ser empregadas e além disso a estrutura da pousada ainda estava sendo construída, cabendo a nós participar de todo processo de evolução e construção de um Lodge de Pesca.


Neste ano de 2019 trabalhei nas três operações; Kendjam, Xingu e Marié, ocupando novamente a posição de Headguide no Rio Marié cuja temporada se estendeu até janeiro de 2020. Desta vez foram longos 8 meses de selva amazônica, o maior tempo que já passei guiando em áreas remotas.


Temporadas Amazônicas x Tarpons em Recife


Desde 2016 quando comecei a guiar em áreas remotas na Amazônia e também fundei a operação Recife Tarpon, as temporadas de tarpon continuaram sendo realizadas ano a ano em paralelo com as temporadas amazônicas


Dessa maneira, fomos expandindo e conseguindo novos guias para trabalharem conosco a guiar os tarpons em Recife. Foi assim que tivemos Rafael Monteiro, Rubinho, Rafael Marques, Guido e Sergio Macedo dando suporte nas guiadas e mantendo nossos serviços de pescaria guiada durante minhas temporadas na Amazônia. 


Vale destacar que ao término das temporadas amazônicas eu sempre dei continuidade aos serviços de pesca guiada de Tarpons no Recife, trabalhando como guia profissional durante todo o ano.


Colaborações com outras pousadas de pesca


Com alguma bagagem como guia profissional, passagens por operações internacionais de pesca na Amazônia e experiências em cargos importantes como o de Headguide, gerência e administrador de operação de pesca, fui convidado para prestar serviços para a Pousada Amazon Roosevelt.


Na primeira visita estive em uma atividade de prospecção auxiliando na exploração e avaliando o potencial de pesca do Rio Guariba, o que viria a ser uma extensão da Pousada Amazon Roosevelt, fundando o Guariba Lodge.


Já na segunda visita estive na pousada Amazon Roosevelt para ministrar um curso que desenvolvi intitulado “Capacitação Profissional de Condutores de Turismo de Pesca aplicado à Pesca com Mosca – Fly Fishing”. 

Ministrando o curso Capacitação Profissional de Condutores de Turismo de Pesca aplicado à Pesca com Mosca – Fly Fishing

Na ocasião, a pousada estava com o intuito de ampliar o número de clientes estrangeiros pescadores de mosca, devendo, portanto, melhorar a qualidade de seus guias de pesca que não estavam habituados à modalidade.


Estivemos na pousada por alguns dias trazendo conceitos teóricos e principalmente práticos para a capacitação dos guias da pousada a se familiarizarem com a pesca com mosca e entenderem as reais necessidades e atenções que devem ser voltadas a um cliente pescador de mosca, garantindo que os próprios guias também fossem capazes de manusear este tipo de equipamentos, conhecendo um pouco dos tipos de varas, carretilhas, linhas, moscas e tipos de nós, dentre outros.


Situação atual como guia de pesca


Dada a expansão de nossos destinos, melhoras na qualidade dos serviços e aumento na demanda por pescarias guiadas de Tarpons, atualmente estou me dedicando com mais enfoque ao meu próprio empreendimento, a Recife Tarpon.


Além disso, agora estou casado e já não é possível passar tanto tempo ausente em áreas remotas. Diante disso, atualmente, estou optando por passar três meses na temporada amazônica.


A escolha por guiar em Kendjam em 2024 se adequou muito bem ao meu planejamento, uma vez que a temporada de Kendjam compreende os meses de Junho a Setembro, cuja época é de inverno em Recife e há pouca procura de clientes.


Voltando ao Recife em Setembro, é possível que eu esteja presente no início, no auge e fim da temporada de tarpons, que vai de Setembro a Maio, o que me garante guiar durante todo o ano, conciliando as duas operações de pesca. 


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